Angola! 2025 Cheira “pólvora” em Angola, Luanda começa a regressar à normalidade após três dias de caos que fizeram 22 mortos e mais de mil detidos, Jovens condenados por motim em Luanda relatam agressões e injustiças

2025.8.3 Jovens condenados por motim em Luanda relatam agressões e injustiças

A greve nacional dos taxistas decorreu entre 28 e 30 de julho em protesto contra o aumento do preço do gasóleo. A paralisação resultou em confrontos violentos, atos de vandalismo e pilhagens em várias zonas da capital e noutras províncias.

Segundo o último balanço oficial, os incidentes causaram 30 mortos, 277 feridos e 1.515 detenções em todo o país.

“Se o povo agiu daquela maneira, alguma coisa não está bem”. É assim que João Mabiala, familiar de um dos jovens condenados por participação nos tumultos, alude aos acontecimentos do início da semana em Luanda.

O seu irmão, Geovani Mabiala, de 17 anos, foi um dos quatro arguidos presentes esta sexta-feira no Tribunal de Luanda, acusado de envolvimento nos protestos violentos que marcaram Luanda durante a greve dos taxistas entre segunda e quarta-feira.

O jovem foi condenado a seis meses de trabalho comunitário, a par de Gelson João, de 18 anos, enquanto os restantes dois arguidos, Adão Manuel, de 22 anos, e Domingos Kiaco, de 20, receberam penas até um ano e meio de prisão efetiva.

Geovani contou que se encontrava em casa no bairro do Malueca quando ouviu barulho na rua.

“As crianças, que se encontravam a brincar no quintal, correram para dentro da residência”, relatou. O quintal, vedado por chapas, foi invadido por um grupo de pessoas que fugiam à polícia e os agentes, ao entrarem no local, detiveram-no, mesmo depois de ter explicado que ali morava.

João Mabiala confirmou que o irmão foi levado sem apresentar resistência e só voltou a ser visto no tribunal.

Para João, os distúrbios resultaram de uma frustração coletiva. “A paralisação foi convocada por taxistas, mas o povo, que já está saturado, se aproveitou também (…) se o povo agiu daquela maneira é porque alguma coisa não está bem”, apontou.

“Se o povo foi invadir para ir roubar arroz, é uma pouca-vergonha, como quem diz: estamos a morrer de fome”, lamentou, pedindo que justiça seja feita.

Gelson João, também condenado a trabalho comunitário, contou que no dia da sua detenção estava a trabalhar numa oficina de produção de sofás no Cazenga. Quando um grupo invadiu o local, tentou fugir. “Quando estava a fugir, descalço, pisei num caco e a polícia agarrou-me, agrediu-me e levou para a esquadra, contou o jovem que apresentava ainda ferimentos e caminhava em bicos de pés no tribunal.

O caso de Adão Manuel, estudante de saúde de 22 anos, resultou numa pena de um ano de prisão. Disse ter sido surpreendido por tiros na rua e ter-se refugiado num quintal. Foi aí que foi detido. Exibia um braço inflamado, preso com um elástico improvisado. “Fui agredido com um porrete (cassetete) no cotovelo”, relatou.

Lucau Manuel, pai de Adão, assistiu ao julgamento com tristeza.

“Isso dá dor, porque eu não o conheço nesses caminhos”, lamentou, dizendo ter sido informado pelos vizinhos da detenção do filho e que esperava pela sua absolvição.

Os jovens foram acusados do crime de participação em motim. Três terão sido detidos em flagrante, segundo os autos, a vandalizar e saquear estabelecimentos no Cazenga na terça-feira. O quarto foi preso no primeiro dia da paralisação dos taxistas, que descambou em atos de violência, pilhagens e confrontos com a polícia em Luanda e noutras províncias.

A Ordem dos Advogados de Angola montou entretanto uma equipa especial para prestar apoio jurídico gratuito aos detidos.

“Queremos dar um bocadinho de acalento aos arguidos e garantir uma defesa adequada, nos termos da lei”, explicou à Lusa o advogado Picasso Andrade, coordenador da equipa.

Segundo o causídico, as penas no âmbito do processo sumário variam entre três dias e três anos, mas muitos arguidos têm sido condenados a penas até um ano e meio e muitos casos têm sido alvo de recurso.

“Constatámos muitas incongruências”, disse. “Há absolvições justas. Estamos aqui em prol da defesa dos direitos fundamentais, liberdade e garantias dos arguidos.”

“Hoje estamos com uma lista de 25 advogados, tivemos um clima mais ou menos positivo, muito ao contrário dos dois dias anteriores”, resumiu Picasso Andrade.

2025.7.31 Luanda começa a regressar à normalidade após três dias de caos que fizeram 22 mortos e mais de mil detidos
Os protestos transformaram-se em tumultos violentos, com pilhagens e agressões na cidade de Luanda
Foram contabilizados 22 mortos, 197 feridos e 1214 detidos

A capital angolana tenta retomar o quotidiano após protestos violentos que deixaram um rasto de destruição e dezenas de vítimas

Luanda começou hoje a regressar à normalidade, após três dias de paralisação dos taxistas que deram origem a violentos tumultos, pilhagens e confrontos, provocando 22 mortos, 197 feridos e 1214 detenções, segundo as autoridades.

Esta manhã, o trânsito fluía com regularidade, embora a presença policial continuasse visível nas principais vias da capital.

Na estrada da Via Expressa, que liga o Zango a Cacuaco, a circulação era tranquila. As bombas de combustível permaneciam com fraca adesão e algumas mantinham vigilância policial.

Os armazéns de comerciantes chineses continuam com proteção reforçada, com viaturas da Polícia de Intervenção Rápida (PIR) a inspecionar mochilas e pastas de quem acedia aos estabelecimentos comerciais.

Também o movimento de rua voltava gradualmente ao ritmo habitual, com zungueiras e vendedores ambulantes contentes com o regresso à “vida normal”, apesar de os vestígios de destruição dos pneus queimados no asfalto estarem ainda visíveis.

Mototaxistas, assim como os populares “azuis e brancos” (táxis privados), voltaram a circular em maior número, enquanto se acumulavam pessoas nas paragens a retomar as suas rotinas, a caminho dos locais de trabalho.

Na Praça da Independência, mais conhecida como Praça 1º de Maio, ponto central da capital angolana, o trânsito estava esta manhã bastante menos intenso do que o habitual, dando quase a impressão de um fim de semana.

Os atos de violência registaram-se na sequência de uma paralisação convocada por cooperativas e associações de táxis, em protesto contra a subida do preço dos combustíveis e das tarifas de transporte público.

O Governo classificou os acontecimentos como “atos de vandalismo” e levou hoje ao Conselho de Ministros o ponto de situação dos distúrbios.

O balanço foi apresentado pelo ministro do Interior, Manuel Homem, que deu conta de 22 mortos, 197 feridos e 1214 detenções apenas na província de Luanda.

Também as empresas do sector comercial e da distribuição alimentar foram fortemente afetadas pelas pilhagens, com a Associação de Empresas de Comércio e Distribuição Moderna de Angola (ECODIMA) a considerar os acontecimentos um “desastre”.

2025.7.29 Cheira “pólvora” em Angola: Protestos contra custo de vida lançam caos em Luanda

A capital angolana, Luanda, foi abalada por uma onda de protestos violentos, marcada por episódios de vandalismo e pilhagens, que já causaram vítimas mortais – apesar de ainda não haver dados oficiais.
Segundo uma publicação do Notícias ao Minuto, os distúrbios coincidiram com o primeiro dia de greve dos taxistas em Luanda, que reclamam a subida dos combustíveis, e com as manifestações (programadas também para terça e quarta-feira) contra o aumento do custo de vida em Angola.

Contudo, os ânimos inflamaram e grupos de jovens revoltados com as condições no país invadiram diversas zonas da cidade e das periferias, causando o caos. Estradas bloqueadas com barricadas e pneus incendiados, estabelecimentos comerciais e viaturas vandalizadas, incluindo autocarros e carros da polícia.

Em vídeos divulgados nas redes sociais, milhares de pessoas são vistas pelas ruas, carregadas com produtos pilhados de lojas ou a perseguir transportes que circulavam nas ruas. Alguns queimaram cartazes com a imagem do presidente angolano João Lourenço, que regressou ao país no dia dos tumultos, depois de uma visita de três dias a Portugal.

Nas ruas, as autoridades disparavam para o ar para tentar dispersar as multidões e repor a ordem na capital, e foram obrigados a interditar as vias barricadas e com pneus incendiados para controlar os distúrbios.

A Associação das Empresas do Comércio e da Distribuição Moderna de Angola (Ecodima) anunciou que todos os estabelecimentos comerciais iam fechar mais cedo temporariamente para assegurar a “salvaguarda de pessoas e bens”. Pelo menos nos próximos dias, o horário de encerramento passa a ser às 17h.

Ao longo do dia, outros estabelecimentos foram anunciando o encerramento dos balcões, pelo menos, até quarta-feira. Lojas, supermercados, e até algumas escolas, fecharam as portas por precaução, enquanto a capital angolana não regressa à normalidade.

O estado angolano não demorou a reagir aos desacatos em Luanda. Num comunicado lido em televisão nacional, o governo disse que as “acções criminosas que atentam contra a estabilidade pública representam um ataque ao Estado democrático e de direito e ao bem-estar dos cidadãos”.

Segundo o Ministério do Interior, “são atos premeditados de sabotagem e intimidação que não serão, em hipótese alguma, tolerados, pelo que as autoridades estão a tomar todas as medidas necessárias para a manutenção da ordem e tranquilidade públicas, bem como para identificar, responsabilizar e levar à justiça os mandantes e executores desses atos deploráveis”.

Em conferência de imprensa, o porta-voz da Polícia Nacional, o subcomissário Mateus Rodrigues garante que a situação já está sob controlo, e que cerca de 100 pessoas foram detidas por perturbação da ordem pública. E frisa que mais pessoas vão ser detidas e levadas à justiça pelos desacatos em Luanda.

“Temos dados, temos imagens, nós continuamos com a investigação e todos aqueles que praticaram os atos de pilhagem serão detidos, para além destes 100, haverá outras detenções e todos eles serão levados aos órgãos de justiça”, afirmou o subcomissário.

Neste último balanço (até ao momento) as autoridades deram conta de pelo menos 20 autocarros destruídos, sendo que os que foram danificados ainda estão por contabilizar.

Quanto às vítimas, a polícia não forneceu qualquer tipo de informação, nem sobre feridos durante os tumultos. Na primeira intervenção, tinham mencionado uma pessoa ferida, que terá sido, entretanto, socorrida.

No entanto, testemunhas garantem haver mortos, apesar de a polícia não adiantar estas informações.

O porta-voz da Polícia Nacional fez, no entanto, questão de realçar que os dados apresentados ainda são preliminares e que a polícia continua a receber informações de vários pontos da cidade onde os tumultos ocorreram.

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